Muitos pais e pediatras não notam um ou os dois testículos na bolsa escrotal do bebê e são orientados a procurar o cirurgião ou a esperar. O testículo não desceu. Mas o que realmente precisamos saber nestes casos.
A condição em que o testículo não se encontra no local correto, que é chamada criptorquidia, inclui uma gama de alterações de posicionamento do mesmo, que podem estar desde intra-abdominal até próximo a entrada do saco escrotal.
É a alteração genital mais comum diagnosticada ao nascimento.
Ocorre em cerca de 3% dos recém-nascidos masculinos a termo e em até um terço dos prematuros.
Mais frequente a direita pois naturalmente é o lado que demora mais a descer completamente.
20% não são palpáveis e destes 20% estarão ausentes na ocasião da cirurgia.
Entre 10 e 25% são bilateralmente fora da posição.
12 a 15% tem histórico familiar envolvido;
Criptorquidismo é uma palavra de origem grega que significa testículo escondido. Suas posições mais comuns nessa ordem são:
- Testículo retrátil (60%): desce até o saco escrotal quando tracionados manualmente;
- Não descido (35%): está no trajeto normal de descida do testículo, porém não desce até o saco escrotal quando tracionado;
- Ectópico (3%): fora do trajeto normal de descida. O posicionamento na face interna da coxa é a localização mais comum.
- Ascendente (<2%): é o testículo que estava no local correto ao nascimento, e que sobe com o crescimento da criança.
Das condições acima nem todas são cirúrgicas.
Lívia Freitas
Cirurgiã Pediátrica em Brasília
Como o testículo é formado?
Para compreender o porquê alguns testículos não estão no local correto precisamos saber que eles não são formados na região escrotal e sim próximo ao rim. Durante o período fetal eles fazem um trajeto de descida do abdome através da região inguinal até se alojarem no local definitivo. Essa posição definitiva é concluída normalmente no terceiro trimestre de gestação e em alguns casos nos primeiros 3 meses de vida.
Para que os testículos tenham um desenvolvimento completo e saudável é essencial que estejam numa temperatura adequada, levemente inferior à do corpo humano, no local adequado que é o saco escrotal, e qualquer posição fora deste local pode ocasionar em anormalidades no desenvolvimento, dentre eles a infertilidade e em casos mais raros tumores malignos.
Por isso é necessário reposicioná-los no local adequado o quanto antes, pois estudos histológicos (em níveis microscópicos) indicam que há alterações a partir de 6 meses de vida, que é a partir de quando normalmente a literatura mais recente indica programação cirúrgica.
Por que o testículo não desceu?
Não existe uma única causa, mas se acredita que este acontecimento é multifatorial e envolve desde a baixa produção de certos hormônios na gestação como fatores ambientais e algumas síndromes genéticas, especialmente as relacionadas a má formações de genitália.
Não vi o testículo do meu filho no local certo. Vai ter que operar mesmo?
Não necessariamente. Em algumas condições nas quais o testículo pode sair temporariamente da bolsa escrotal por algum estímulo, normalmente relacionado ao frio ou a movimentações do abdome ou dos membros. Porém na maior parte do tempo ele está na bolsa escrotal. Essa condição é conhecida como testículo retrátil e merece acompanhamento do pediatra, em casos de mudança do quadro deverá ser encaminhado ao cirurgião.
Lívia Freitas
Cirurgiã Pediátrica em Brasília
O testículo realmente não desceu. O que devo fazer?
Procure imediatamente uma avaliação do pediatra ou mesmo diretamente do cirurgião. Essa condição em que o testículo não desceu é conhecida como criptorquidia (criptos – escondido, orquidia – testicular).
Durante a avaliação o médico irá identificar a posição do testículo pois ela determinará o tipo e a complexidade da cirurgia o ato cirúrgico de posicionar o testículo no saco escrotal se chama Orquidopexia.
Quando o médico não consegue palpar o testículo é importante fazer exames?
A indicação de cirurgia abdominal existe independentemente dos resultados, porém exames pouco invasivos e de fácil acesso como ultrassom podem determinar posição e tamanho. E mesmo que não seja identificado a abordagem continua sendo indicada.
Em poucos casos selecionados há indicação da realização de outros exames como dosagem de hormônios, exames genéticos como cariótipo ou ainda investigação do trato urinário. Vai depender do exame físico e história clínica do paciente, a critério do médico assistente.
Existe outras possibilidades de tratamento?
O tratamento cirúrgico para casos confirmados é obrigatório. Mas em alguns casos o tratamento hormonal adjuvante pode ser indicado, em conjunto com equipe de endocrinologia ou em alguns casos selecionados de testículo retrátil.
Lívia Freitas
Cirurgiã Pediátrica em Brasília
E a cirurgia?
O reposicionamento do testículo é chamado orquidopexia e em parte dos casos está associada a hérnia inguinal. Portanto na cirurgia também devemos buscar pela presença desta hérnia.
A depender da posição a abordagem pode ser de duas maneiras principais:
Inguinal: a mais comum, pois a maioria dos testículos estão na região inguinal. Essa abordagem consiste em um corte na região inguinal de cerca de 5 cm em busca do testículo até seu reposicionamento dentro da bolsa escrotal.
Abdominal: reservada para quando, durante o exame físico o testículo não é encontrado em região inguinal. Então temos três possibilidades: encontrar um testículo funcional dentro do abdome ou encontrar um testículo atrófico ou disfuncional ou ainda não encontrar o testículo no final dos vasos que o nutrem pois houve algum processo que o levou a atrofia ainda no período gestacional. Essa condição é conhecida como vanishing testis (cerca de 1 % dos casos).
A abordagem cirúrgica abdominal normalmente é realizada via videolaparoscópica pois é menos invasiva e mais precisa a localização. Na maioria das vezes, nestes casos, é necessária realização da cirurgia em dois momentos diferentes com cerca de 6 meses entre a primeira e a segunda.
Em ambas as abordagens há necessidade de fixação do testículo no saco escrotal, o que possível através de uma pequena incisão em sua pele e fixação do testículo em suas camadas mais internas.
Quanto mais cedo a intervenção, maiores a chances de sucesso e maiores as taxas de fertilidade no futuro. As alterações se inicial a partir dos seis meses, porém a partir dos dois anos elas se intensificam, portanto o ideal é programar abordagem cirúrgica o mais cedo possível, ao contrário de condutas mais antigas que preconizavam cirurgia mais tardia.
A cirurgia é considerada de pequeno porte, em caso de abordagens inguinais e requer anestesia geral; A grande maioria interna pela manhã e recebe alta no final do dia. Solicitamos um repouso relativo de crianças maiores e para bebês em geral não há necessidade de restrição de movimentos, apenas cuidados habituais com as cicatrizes.
A recuperação costuma ser bem rápida e a dor controlada satisfatoriamente. Há um edema local e em alguns casos equimose devido a intensa movimentação em todo trajeto. Mas costumam regredir e sumir espontaneamente.
A orquidopexia é uma das cirurgias que requerem acompanhamento a longo prazo mesmo após a recuperação, seja semestral ou anual. Devemos acompanhar o crescimento, desenvolvimento e posicionamento do testículo abaixado. É muito raro, porém pode ocorrer isquemia e atrofia do testículo a médio e longo prazo ou mesmo subida dele, especialmente em pacientes maiores e testículos mais distantes do saco escrotal. E nestes casos é necessário outro reposicionamento ou mesmo ressecção do testículo atrófico.
Seu filho precisa de uma avaliação para criptorquidia? Conte comigo!
Lívia Freitas
Cirurgiã Pediátrica em Brasília
Saiba mais em:
Por que um cirurgião pediátrico para operar meu filho em 4 tópicos draliviacirurgiapediatrica.com.br/cirurgia-em-crianca-de-sucesso/
Fontes:
https://www.ciperj.org/imagens/palestras_artigos/v_curso_ciperj_cremerj/dra_lisieux.pptx
https://www.sprs.com.br/sprs2013/bancoimg/170615164310bcped_06_01_a04.pdf